• Matéria: História
  • Autor: Anônimo
  • Perguntado 9 anos atrás

Qual a relação que os gregos estabeleciam entre o corpo, saúde e beleza física?

Respostas

respondido por: matheusmagasm
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o que se saiba, nenhum outro povo do passado ou mesmo do presente valorizou a aliança entre a virtude e o vigor físico como o fizeram os gregos antigos. Criaram inclusive uma palavra composta - Kalokagathia - para resumir o ideal humano que tinham em mente. Kálos significa 'belo', Ka , é 'bom', e, por fim, Agathos , está ligada à virtude e à coragem. E esta concepção ideal do ser humano materializou-se tanto nas esculturas e pinturas como no estímulo às guerras e aos Jogos Olímpicos e outras competições que eram praticadas por todo mundo helênico.

O conceito de virtude 
Ensina Werner Jaeger (em Paidéia ) que foi a gradativa distinção entre as classes sociais, aceleradas depois dos Tempos Homéricos, e o aumento da escravidão entre os gregos, que fez por inflar a obsessão da casta aristocrática (sentindo-se herdeira dos guerreiros e dos heróis imortais) por se distinguir cada vez mais dos outros.

Ainda que ocorresse a eventual substituição na cidade-estado da camada dirigente, a que sucedia, a 'nova classe', por igual herdava os valores da sua antecessora. Mesmo que mais tarde, a partir do século V-IV a.C., houvesse adesão à democracia, Atenas sempre se orientou pelos valores maiores dos aristói ('dos melhores'). Nunca uma ética 'burguesa' predominou entre eles durante o regime popular (para tanto basta consultar os autores trágicos que sempre trataram em suas peças das famílias reais e nunca das comuns).

Não havia dúvida que a nobreza era a 'fonte espiritual pela qual nasce e se desenvolve a cultura de uma nação'. Foram nos Tempos Homéricos (1200 - 800 a.C.) que encontramos as primeiras raízes da celebração do 'homem superior', do 'homem perfeito' que passou ser o modelo do escol da raça na cultura ocidental.

Evidentemente que a procedência disto - a matriz literária de tudo - encontra-se nos dois grandes poemas de Homero: a Odisseia e a Ilíada.

O soberbo vate narrou uma quantidade excepcional de situações (são mais de 27 mil versos) nas quais a virtude do guerreiro aflorava e se destaca em meio à massa dos combatentes anônimos. Não faltavam exemplos; além de Aquiles, Pátroclo, Diomedes, Ajax, Ulisses, o troiano Heitor, e tantos outros mais, eram a prova da existência do 'homem excepcional', do 'fora do comum', devido à valentia, ao destemor pessoal e à absoluta indiferença deles frente à morte.

Cunharam a expressão Aretê , não somente para definir tal excepcionalidade como também para utilizá-la para classificar a superioridade de seres não humanos (como no caso dos deuses). Nenhum escravo ou theta (trabalhador braçal) poderia ser dotado deAretê . Se por acaso alguém das castas inferiores emergisse para uma posição de destaque na cidade-estado, deus retirava-lhe metade da Aretê, fazendo com que ele deixasse de ser quem era antes.

Isto em razão da virtude, tanto a do corpo como a do espírito, ser um atributo próprio dos aristói , da nobreza governante. Somente ela apresentava a força, capacidade, saúde, vigor e percepção intelectual, além de ser admirada na comunidade em geral pelo respeito que impunha, pelo prestigio que gozava e do bom senso que a orientava. E, certamente, a habilidade física e guerreira que a fazia comandar as operações militares da cidade-estado.

O elmo, o escudo, a espada e a lança de bronze, faziam parte do seu equipamento para dedicar-se ao polemós (a guerra) e ao tempo que imperava a paz vestia-se com trajes civis para dedicar-se à administração das coisas (tanto óicos , a sua propriedade doméstica, como dos assuntos coletivos da pólis ).

Aretê não era percebida como um bem ou uma virtude moral. Ela estava ligada à bravura militar, à valentia, à virilidade, à excelência e à destreza em combate aberto. Designava, como ressaltou W. Jaeger, "o homem nobre que tanto na vida privada ou militar se rege por condutas alheias aos demais homens comuns".

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