O despertar do cortiço Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente, uma aglomeração tumul tuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; viase-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas das mãos. As portas das latrinas não descansavam, era um subir e fechar a cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo no capinzal dos fundos, por trás da estalagem ou no recanto das hortas.
Com base no fragmento lido, indique a alternativa que NÃO está de acordo com a estética Naturalista:
a) Do ponto de vista narrativo, o narrador do texto traçou um painel informativo do ambiente físico e social com o objetivo de compor/ decompor para o leitor detalhes do cenário em ocorrem os fatos. b) Os seres humanos são descritos no texto numa perspectiva biológica, em que se considera o seu lado instintivo e animalesco, reforçado pelo gosto em retratar os agrupamentos coletivos. c) A linguagem utilizada pelo narrador caracteriza-se pela adoção de uma postura científica diante da realidade. d) O texto ressalta um comportamento comum entre os personagens naturalistas: colocar as razões do coração acima das normas e convenções sociais, eles deixam-se levar pelas emoções e pelo amor ao próximo.
Respostas
Explicando: Em O cortiço, os moradores são descrito de formas animalescas, com a ação baseada em instintos naturais, tanto sexual, quanto de sobrevivência. Então essa alternativa está incorreta, pois eles não se deixavam levar pelas emoções e pelo amor ao próximo, e sim pelo instinto animal.
NÃO está de acordo com a estética Naturalista o texto da alternativa D.
Explicação:
Na verdade, não está presente na estética Naturalista nem na obra O cortiço, de Aluísio Azevedo, o sentimentalismo (colocar o coração acima da razão).
Por exemplo, nessa obra, que representa o máximo do pensamento naturalista, ao descrever as personagens, o narrador utiliza termos que sugerem sua animalização, associando as pessoas a características e ações de animais ("sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas"; "zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas"; "molhar o pelo"; "fossando").
O uso do narrador em 3ª pessoa e onisciente (que sabe tudo) permite que nós tenhamos acesso à sua visão, seus julgamentos. Além disso, traz uma descrição mais distanciada e impessoal que revela a realidade de forma objetiva.
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