Como a questão de gênero é tratada nas aldeias?



Falar de violência contra a mulher é falar também sobre a desigualdade de gênero. Mas novamente, o tema ganha diferentes nuances quando se trata das comunidades indígenas.

De acordo com Iza Tapuia, consultora da UNESCO e uma das lideranças do povo Tapuia, para interpretar os papéis que mulheres e homens assumem nas aldeias é preciso se desnudar do olhar da cidade:

"No contexto das comunidades o mundo dos homens e das mulheres está muito bem definido. Se você pega um roçado, por exemplo, os homens vão limpar, derrubar as árvores, abrir o espaço. Já o plantio é por nossa conta. A gente tem essa relação mais próxima com a terra e tudo tem a ver com a reprodução. A terra reproduz a semente né? E a gente produz os outros membros do grupo para não deixar nosso povo acabar."

E completa:

"Essa questão de gênero é muito complicada para a gente. No mundo não-indígena ela está ligada ao poder e à submissão. Mas no mundo indígena é mais complexo. Os homens não tomam a decisão sozinhos. Apesar de estarem no terreno, ou conversando na casa dos homens, eles não saem de lá sem levar em conta a orientação das mães, das irmãs, das esposas. É muito difícil que um homem tome uma decisão que não seja compartilhada com as mulheres. Dá a impressão para quem chega de fora que eles são os todos poderosos, são o centro da aldeia. Mas isso não significa que nós não temos nosso poder. Se você conviver em uma aldeia você vai perceber isso. Essas normas são feitas muito antes da gente nascer. Já está definido ali o meu papel, a minha responsabilidade."

Ela ainda afirma que os casos de estupros se tornaram realidade nas comunidades e argumenta que as motivações externas, como o uso excessivo de álcool, precisam ser freadas.

"O estupro não é uma prática natural nas aldeias. É uma distorção moral e cultural. As mulheres indígenas começam a ser preparadas para a reprodução física e cultural do povo a partir da primeira menstruação. No olhar não-indígena isso vai ter distorções. Nós já temos muitos problemas causados pelos brancos. E quando estes problemas, como o estupro e o consumo de álcool, chegam nas aldeias eles são muito mais graves, pois afetam a organização social tradicional dos povos. Por isso que tudo tem que ser analisado caso por caso."

(...)

Marcia Kambeba chama a atenção, ainda, para outro tipo de violência que também está relacionada ao gênero: a criação de estereótipos da mulher indígena:

"A violência contra a mulher indígena não é só estupro. Nós passamos por constrangimentos de todas as formas. Por exemplo, quantas vezes já ouvi 'você não tem cara de índia!'. Se a mulher não fala mais a língua materna é brutalmente criticada. Se usa roupa também é criticada ou chamada de 'aculturada'. E o casamento sem que ela sinta vontade de se casar? E ainda quando a natureza é agredida, a mulher indígena também sente. A terra, a água e a mata são femininas".

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Por muito tempo foi considerado que os indígenas eram imagens de um passado "atrasado". O exemplo de uma sociedade a ser "salva" por um colonizador "moderno". A eles, e principalmente a elas, foi designada a nudez, as pinturas, os colares, como algo exótico a ser exibido.

Antes, eles eram cerca de 3 a 4 milhões. Segundo o Censo do IBGE de 2010, agora são 817 963 mil (sic), entre os mais de 240 povos. Sobreviveram à extinção, mas continuam sendo violentados.

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ROSA, A. B. Por que a violência contra mulheres indígenas é tão difícil de ser combatida no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 8 jun. 2017.



De modo geral, como as relações de gêneros são vistas nas aldeias pelas indígenas, de acordo com Iza Tapuia (consultora da UNESCO e uma das lideranças do povo Tapuia)?

Escolha uma:
a. Com papéis muito bem definidos entre homens e mulheres, havendo um compartilhamento de decisões.
b. Da mesma forma como as mulheres a encaram na cidade.
c. Com os homens sobrepondo-se às mulheres nos assuntos da comunidade e do cultivo da terra.
d. Com papéis mesclados entre homens, mulheres e crianças, com decisões coletivas e públicas.
e. Com as mulheres sobrepondo-se aos homens nas decisões coletivas

Respostas

respondido por: BiaBomfim
2
Alternativa:

a. Com papéis muito bem definidos entre homens e mulheres, havendo um compartilhamento de decisões.

Segundo o texto e o relato de Iza Tupaia, as mulheres tem as funções definidas, sendo normalmente tarefas ligadas a reprodução, associadas ao plantio e fecundação.

Apesar dos homens se reunirem para tomar as decisões relevantes, sempre é levada em conta a orientação das mães e esposas, fazendo com que elas se sintam representadas.

Entretanto, o relato aponta problemas sociais que teriam sido trazidos pelos brancos, tais como o estrupo.
respondido por: mjuliamt
3
e. Com papéis muito bem definidos entre homens e mulheres, havendo um compartilhamento de decisões.
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