• Matéria: Português
  • Autor: marydugarcia
  • Perguntado 7 anos atrás

A CONFERÊNCIA Juan José Saer O conferencista entrou, jovial. Era em um dos salões da Real Academia de Ciências de Bruxelas e, se minhas recordações não me enganam, ia falar sobre o problema dos métodos de verificação de uma soma: o conferencista descartava a priori a verificação estatística (por X número de pessoas) e a convicção subjetiva e de boa-fé sobre o resultado. Mas pode ser que fosse o contrário. Sentou-se, estendeu sobre a mesa as folhas de uma pasta e, antes de começar a desenvolver seu tema, contemplou durante uns segundos a jarra transparente, sorriu como que para si mesmo, e disse: Costumo dormir a sesta antes de fazer uma conferência, para tranquilizar-me, porque a obrigação de falar em público me deixa sempre muito nervoso. Por isso, há apenas uma hora que tive um sonho. Três pessoas diferentes fotografavam rinocerontes. Eram três imagens sucessivas, mas o método que empregavam para tirar a fotografia era o mesmo: entravam no rio até a cintura e assim fotografavam o rinoceronte, que se encontrava na água, a alguns metros de distância. Tratava-se de rinocerontes, não de hipopótamos. O último dos fotógrafos era um poeta amigo meu (que não conheço pessoalmente). Era meu amigo no sonho. Esse poeta, de fama universal, me explicava em detalhe o procedimento que habitualmente se emprega para fotografar rinocerontes. E, em nome de nossa velha amizade, presenteava-me com a fotografia que acabava de tirar. O conferencista fez silêncio e recolheu do meio de seus papéis um retângulo colorido. Depois, antes de começar a dissertação propriamente dita, concluiu seu relato: Talvez vocês creiam que este sonho que acabo de lhes contar é pura invenção. Pois bem, estimados ouvintes, vocês estão equivocados. Aqui tenho a prova, disse, e levantou a mão mostrando ao público a fotografia em cores de um rinoceronte em um rio africano, ainda úmida, sem dúvida por causa da proximidade da água ou da revelação recente. Traduzido de Lugar, último livro do autor argentino. In Cuentos completos: 1957-2000. 3. ed. Buenos Aires: Seix Barral, 2004. p. 11. Considerando o foco narrativo do conto de Juan José Saer, responda: a) Classifique o narrador. b) Avalie o grau de confiabilidade que a linguagem do narrador confere ao seu relato. Justifique sua avaliação com dois exemplos. 2) Releia o último parágrafo do conto e responda: a) Por que esse parágrafo é surpreendente? b) Apresente duas razões para que o desenlace do conto seja considerado ambíguo.

Respostas

respondido por: makmorales
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a. O foco narrativo do conto de Juan José Saer é feito em primeira pessoa, visto que o narrador estava presente no evento e conta-o a partir de suas memórias.

b. O grau de confiabilidade que a linguagem do narrador refere-se ao seu próprio relato é alta, visto que ele exprime grandes detalhamentos das ações feitas pelo conferencista. Como observação, tem-se o trecho no qual ele diz "(...) ... se minhas recordações não me enganam...".

2. a) O último parágrafo é surpreendente porque demonstrava uma prova física de um evento que ocorreu no sonho do conferencista.

b. O desenlace do conto é ambíguo porque pode-se concluir ao mesmo tempo que o homem sonhou porque havia recebido uma fotografia de rinoceronte, ou, que seu sonho se materializou em realidade.

Abraços!

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