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Clientelismo ainda domina a política no interior do Brasil.
“Muitos votos ainda dependem de troca de favores.”
Embora já haja pontos do sertão e da floresta onde a união da comunidade conseguiu trazer uma consciência política para a população local, o mais comum ainda é assistir a práticas de clientelismo e compra de voto que dificultam o exercício da cidadania plena.
Nas regiões mais isoladas do Pará, por exemplo, os candidatos que visitam vilas distantes – em longas viagens pelos rios amazônicos – são esperados com ansiedade pelas comunidades ribeirinhas.
A visita destes candidatos é um raro momento em que esta parcela isolada da população brasileira consegue tomar contato com os homens e mulheres que vão determinar, de longe, partes importantes da vida da região.
Mas ao invés de discussões de longo prazo, estas populações se concentram em seus pedidos pessoais de favores, depois de a experiência de algumas décadas ter demonstrado que pouco benefício de estado é levado para a toda a comunidade pelo poder público.
Voto por corte de cabelo
“Tem muito candidato que sai de barco com um dentista em um barbeiro trocando voto por tratamento dentário e corte de cabelo”, contou um jornalista da cidade de Santarém.
Mas mesmo em áreas muito isoladas, há exemplo de atuação política exemplar, como na cidade de Jacareacanga.
O município, perto da divisa entre Pará e Mato Grosso, só pode ser atingido em duas horas de vôo ou seis dias de barco a partir de Santarém.
Jacareacanga foi criada a partir da junção de diversas tribos indígenas que viviam na área.
E ao contrário do que acontece normalmente, os índios da área criaram uma impressionante consciência política a ponto de o vice-prefeito e sete dos quinze vereadores serem das aldeias.
No interior de Pernambuco, a comunidade de Conceição das Crioulas – uma área remanescente de Quilombo no município de Salgueiro – também conseguiu quebrar a alienação política que dá o tom das populações pobres do sertão.
Inicialmente, a comunidade se uniu para lutar pela terra ocupada por seus antepassados e que por lei federal lhes era de direito.
Hoje, todos os meses uma grupo de moradores se reúne no salão comunitário para discutir os problemas da vila. E já conseguiram até eleger uma vereadora.
"Antes aqui era só um curral, que não se envolvia com política e onde alguns candidatos passavam a cada quatro anos atrás de votos. Mas, a partir dos anos 80, alguns moradores da comunidade começaram a olhar para fora e ver a força dos movimentos negros e de quilombos no Brasil", contou a presidente da Associação Quilombola, Aparecida Mendes.
Mas esta consciência política ainda é rara no sertão.
Troca de favores
Em geral, o que se vê nas pequenas cidades é o domínio de chefes políticos locais e a velha tradição de um favor por um voto.
Mesmo as casas da elite política local são preparadas para esta prática. Todas têm grandes ante-salas, com cadeiras e sofás onde os eleitores aguardam a chance de uma audiência.
“Acontece sim. A gente não pode negar que acontece muito pedido pessoal na época de eleição”, me disse uma candidata a deputada estadual na cidade de Canapi, a terra da ex-primeira dama Rosane Collor, no sertão de Alagoas.
Em um comício da deputada um grande churrasco foi oferecido para os eleitores de uma vila.
Sob um sol escaldante, um caminhão de som tocava o jingle- forró da candidata a todo o volume a população sentia o cheiro da carne sendo assada trancada dentro de uma casa.
Comida, só quando chegasse a candidata.
Quando ela finalmente aparece, assessores aparecem com bacias de carne sobre a cabeça. A população disputa aguerrida os nacos de carne que conseguem pegar.
E os candidatos disputam muito mais nos favores do que nas propostas o voto do sertanejo.