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Escrever sobre o momento histórico que nos contém – a contemporaneidade – exige um distanciamento do presente para um olhar sobre nossa “época”, como definiu o filósofo Jean-Paul Sartre. Pelo método dialético, a compreensão da existência humana é descrita conforme épocas da História. Em nossa época, reconhecer o antigo e o novo é estratégico para produzirmos uma crítica que seja capaz de quitar a “dívida multidisciplinar” estabelecida entre a Geografia, a Saúde e a Comunicação.
O contexto de pandemia em um mundo globalizado exige apontamentos que vão da teoria para a prática, reflexões que atenuam diálogos entre o pesquisador e o profissional de Comunicação Social. Nos últimos anos, doenças zoonóticas emergentes assumiram destaque dos media por serem consideradas de “médio risco”. Por serem ameaçadoras, as epidemias sempre sondaram a necessidade de medidas práticas de cientistas e profissionais técnicos de diversas áreas para evitar as pandemias, afinal a informação é uma “arma” em uma “guerra contra os vírus”.
Assim como a Ebola e a Zika, a Covid-19 é uma doença de “alto risco” causada por um vírus da família dos “coronavírus”. A origem geográfica do novo coronavírus na China foi apontada por especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), instituição segundo a qual o desmatamento do espaço natural e a comercialização de animais silvestres podem ser fatores somáticos para a origem da maior pandemia do século XXI.
Em 1976, quando Michel Foucault endereçou diversas questões complexas à revista parisiense Hérodote, na época editada pelo geógrafo Yves Lacoste, diversos geógrafos responderam por meio de cartas que foram publicadas na edição seguinte, em 1977. Milton Santos ofereceu uma resposta a uma das questões sobre a possibilidade de uma “Geografia da Saúde”, em resposta ao autor francês, onde evidenciava a necessidade da ação interdisciplinar para um conhecimento geopolítico sobre as dinâmicas das estruturas da “medicina global” e as funções econômicas dos seus processos de inovação.
Milton Santos afirma, em seu breve e denso artigo intitulado Une géographie de la médecine, que “é preciso sempre recorrer a uma unidade de análise situada em um nível mais elevado para encontrar na totalidade do movimento social as razões específicas, particulares, aparentemente locais”. Hoje, ainda sob esta visão de mundo, buscamos recorrer à “unidade” para refletir que estudos diversos sobre Geografia, Saúde e Comunicação, em escala global, indicam esta mesma necessidade de “totalidade” indicada por Milton Santos em resposta à Michel Foucault: por uma retomada de conceitos e categorias críticas que possam estar associadas em prol de soluções locais.
Quando a pandemia da Covid-19 foi confirmada, questões oriundas da Saúde aceleraram-se em busca por respostas no campo da Geografia, que, por sua vez propõe questões que encontram respostas no campo da Comunicação, e vice-versa, em um processo de “unicidade teórica” de “totalidade prática”, um movimento do campo científico capaz de reacender um debate mundial “por uma outra globalização”, como enunciou Milton Santos no título da sua última obra.
Ao longo deste artigo, buscaremos realizar uma articulação entre conceitos, categorias e metodologias que aponta como o mapeamento é um procedimento-chave para um monitoramento eficiente, especialmente neste período de pandemia pelo novo coronavírus.