Cientistas descobrem planeta habitável mais próximo da Terra
(SALVADOR NOGUEIRA)
Um grupo internacional de astrônomos anunciou ontem a descoberta de um planeta possivelmente habitável a meros 13 anos-luz de distância – o mais próximo mais detectado. Ele é quase tão velho quanto o próprio Universo.
O achado foi feito ao redor da estrela Kapteyn, uma anã vermelha que tem apenas 30% do diâmetro solar e foi descoberta no século 19 pelo astrônomo holandês Jacobus Kapteyn.
Para detectar possíveis mundos em torno dela, os pesquisadores liderados por Guillem Anglada-Escude, da Universidade Queen Mary, de Londres, usaram dados obtidos no observatório Keck, no Havaí, e no Observatório de La Silla, no Chile.
Os cientistas estudaram a assinatura de luz da estrela em busca de sinais de movimento causado pela atração gravitacional produzida por planetas circundantes.
Encontraram dois deles. O menor, batizado de Kapteyn b, tem cerca de cinco vezes a massa da Terra e completa uma volta em torno da estrela a cada 48 dias.
ZONA HABITÁVEL
Em sua órbita, Kapteyn b recebe a quantidade certa de radiação para preservar água em estado líquido na superfície. Ou seja, ele em tese deve ter condições para abrigar vida como a conhecemos.
E o que é mais incrível: ele deve ter preservado essas circunstâncias desde muito antes de a Terra ter se formado. Estima-se que a estrela Kapteyn tenha nascido 11,5 billhões de anos.
“Estrelas anãs vermelhas são muito estáveis depois que amadurecem, como aconteceu com essa em particular há mais de 10 bilhões de anos”, disse à Folha Mikko Tuomi, astrônomo da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, e coautor do trabalho, publicado no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society”.
O segundo planeta do sistema, Kapteyn c, tem sete vezes a massa da Terra, mas é frio demais para ter água em estado líquido.
Ao analisar a trajetória da estrela de Kapteyn, os pesquisadores estimam que ela tenha se originado na mesma região em que hoje há o aglomerado de estrelas conhecido como Ômega Centauri.
Acredita-se que esse apanhado de estrelas fosse originalmente o núcleo de uma galáxia anã que foi engolida pela Via Láctea, e que a estrela de Kapteyn fizesse parte dessa antiga galáxia.
Essa análise é o que permite uma estimativa de sua idade e também é o que traz uma possibilidade incrível: a de que a vida lá exista há mais tempo que aqui. “Faz você pensar que tipo de vida poderia ter evoluído nesses planetas por tanto tempo”, especula Anglada-Escude.
A 13 anos-luz da Terra, trata-se do planeta habitável mais próximo confirmado. Mas há desconfiança de um mundo habitável em Tau Ceti, a 12 anos-luz, e até em algumas das estrelas do sistema Alfa Centauri, a 4,2 anos-luz. É possível que novos recordes sejam batidos no futuro.
(Folha de São Paulo, 04/06/2014)
QUESTÃO 01
O texto I trata-se de uma reportagem, um gênero cuja função é apresentar informações aprofundadas a respeito de fatos de interesse público. O gênero em questão requer pesquisa sobre o assunto que será nele apresentado. Explique o assunto tratado no texto.
QUESTÃO 02
Após a leitura do texto I, tendo em vista seu objetivo, identifique a função da linguagem predominante nele. Em seguida, justifique sua resposta.
QUESTÃO 03
Observe os textos a seguir e identifique a função da linguagem predominante em cada um, destacando o elemento de comunicação centralizador. Em seguida, justifique sua resposta.
Respostas
Resposta:
Astrônomos descobriram um exoplaneta potencialmente habitável, do tamanho da Terra, a 300 anos-luz de distância de nós.
Dos 2.681 planetas fora do Sistema Solar já encontrados pelo telescópio espacial Kepler, da Nasa, entre 2009 e 2018, este é o mais parecido em tamanho e possivelmente em temperatura com o nosso planeta, de acordo com um novo estudo publicado nesta quarta-feira (15) na revista científica “Astrophysical Journal Letters”
O Kepler foi “aposentado” em 2018, mas os dados coletados por ele podem levar a mais descobertas nos próximos anos. Foi justamente vasculhando este arquivo que os pesquisadores encontraram o novo planeta.
Intitulado Kepler-1649c, ele é 1,06 vez maior que a Terra e recebe cerca de 75% do total de luz que nosso planeta recebe do Sol. Isso sugere que a temperatura em sua superfície pode ser similar à da Terra.
O planeta também está localizado na zona habitável de sua estrela, distante o suficiente para que a água se mantenha líquida –o que também indica a possibilidade de suportar vida.
Kepler-1649c, porém, orbita uma estrela anã-vermelha, muito menor e mais fria que nosso Sol. Nos últimos anos, diversos planetas foram descobertos orbitando esse tipo de astro, que é bem comum em nossa galáxia, a Via Láctea.
O planeta está muito mais próximo de sua estrela do que a Terra está do Sol: um ano lá dura o equivalente a 19,5 dias terrestres. Isso indica ainda que o Kepler-1649c pode ser atingido por explosões de radiação da estrela, ameaçando qualquer vida potencial. Apesar disso, nenhuma explosão do tipo foi detectada até agora.
Além disso, os cientistas ainda não sabem muito sobre a composição da atmosfera do planeta, o que poderia aumentar a estimativa de temperatura da superfície. Os pesquisadores sabem que há outro planeta de tamanho semelhante orbitando a mesma estrela, mas muito mais perto dela, como Vênus no nosso Sistema Solar, informou a Nasa.
“Este intrigante mundo distante nos dá ainda mais esperanças de que uma segunda Terra encontra-se entre as estrelas, aguardando para ser encontrada”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missões Científicas da Nasa, em Washington. “Os dados coletados por missões como a [do telescópio especial] Kepler e do nosso Satélite de Pesquisa de Exoplanetas em Trânsito (Tess, na sigla em inglês) irão continuar produzindo descobertas espetaculares enquanto a comunidade científica refina suas habilidades para procurar planetas promissores ano após ano.”
O Kepler-1649c se junta a outros intrigantes planetas com tamanho similar, como Trappist-1F, no sistema Trappist, a 39 anos-luz da Terra. Outros exoplanetas, como Trappist-1D, e TOI 700d, têm temperatura similar à estimada de Kepler-1649-c.
Mas o novo exoplaneta é o mais interessante, pois tem tamanho e temperatura similares aos da Terra, além de estar na zona habitável de sua estrela.
Inicialmente, Kepler-1649c foi esquecido porque um algoritmo de computador chamado Robovetter o classificou como falso positivo. Computadores podem errar, então os cientistas de um grupo especializado em analisar os falsos positivos reavaliaram os dados e identificaram o corpo como sendo um planeta.
“De todos os planetas errados que recuperamos, este é particularmente emocionante --não apenas porque está na zona habitável e ser do tamanho da Terra, mas também devido à maneira como ele pode interagir com este planeta vizinho", disse Andrew Vanderburg, pesquisador da Universidade do Texas, em Austin, e o primeiro autor do estudo. "Se não tivéssemos examinado o trabalho do algoritmo manualmente, teríamos perdido ele."
Os cientistas acreditam que pode haver um terceiro planeta no sistema, apesar de ele não ter sido avistado ainda. Isso porque o primeiro e o segundo planetas têm uma ressonância orbital: suas órbitas se alinham em uma proporção estável. A cada nove vezes que Kepler-1649c orbita sua estrela, o planeta mais próximo completa quatro órbitas. Um outro planeta poderia existir entre os dois.
“Quanto mais dados obtemos, mais sinais apontam para a noção de que exoplanetas potencialmente habitáveis e do tamanho da Terra são comuns em torno desse tipo de estrela", disse Vanderburg. "Com as anãs vermelhas em quase toda a parte da nossa galáxia, e esses pequenos planetas rochosos potencialmente habitáveis ao redor delas, a chance de um deles não ser muito diferente da nossa Terra parece um pouco mais palpável."