• Matéria: Português
  • Autor: anonimooooooo18
  • Perguntado 3 anos atrás

"Odeio a lua, tenho medo dela, pois quando ela

brilha sobre certas cenas familiares e amadas, às vezes as

torna inusitadas e hediondas.

Foi no verão espectral, quando a lua brilhava sobre

o velho jardim onde eu passeava; o verão espectral de

flores narcóticas e úmidos mares de folhagem

provocando sonhos multicores e selvagens. E enquanto

caminhava margeando a rasa corrente cristalina, vi

estranhas ondulações com as cristas amareladas de luz,

como se aquelas plácidas águas fossem arrastadas em

correntes irresistíveis para estranhos oceanos fora do

mundo. Silenciosas e faiscantes, brilhantes e malignas,

aquelas águas amaldiçoadas pela lua corriam não sei

para onde, enquanto nas margens verdejantes, brancas

flores de lótus esvoaçavam uma a uma levadas pelo

narcótico vento noturno, e caíam invariavelmente na

corrente, girando vertiginosamente para longe, por baixo

da ponte arqueada, entalhada, e olhando para trás com a

sinistra resignação das impassíveis faces mortas.

Enquanto corria ao longo da margem, esmagando

flores adormecidas com pés descuidados, enlouquecido

pelo medo de coisas desconhecidas e pela sedução das

faces mortas, vi que o jardim não tinha fim sob aquele

luar, pois onde havia muros durante o dia, agora se

estendiam apenas novas paisagens de árvores e

caminhos, flores e arbustos, ídolos de pedra e pagodes, e

as dobras da corrente amarelada cruzando ribanceiras

gramadas e passando por baixo de grotescas pontes de

mármore. E os lábios das faces-lótus mortas



murmuravam tristemente e convidavam-me a

prosseguir, e não cessaram meus passos até que a

corrente virasse um rio desaguando, através de pântanos

de juncos ondulantes e praias de areias cintilantes, na

costa de um vasto e inominado oceano.

Brilhava sobre aquele mar a hedionda lua, e de

suas ondas mudas emanavam misteriosos perfumes. E,

enquanto olhava as faces-lótus ali desaparecerem,

ansiava por redes que me permitissem capturá-las e

aprender com elas os segredos que a lua trouxera para a

noite. Mas quando a lua desceu para o oeste e a maré

calma refluiu a praia sombria, eu vi, sob aquela luz,

antigas flechas quase descobertas pelas ondas e colunas

brancas adornadas com festões de algas verdes. E

sabendo que para este lugar submerso vieram todos os

mortos, estremeci e não quis mais falar com as faceslótus.

No entanto, quando enxerguei no horizonte

marinho o negro condor descer do céu para pousar em

um vasto recife, de bom grado eu o teria interrogado e

perguntado por aqueles que eu conhecera quando

estavam vivos. Isto eu lhe teria perguntado se não

estivesse tão longe, mas ele estava muito longe e não

podia ser absolutamente percebido ao se aproximar

daquele gigantesco recife.

Observei então a maré vazar sob aquela lua

poente, e vi, cintilando, as flechas, as torres e os telhados

daquela cidade morta gotejante. E enquanto olhava,

minhas narinas tentaram se fechar para o mau cheiro dos

mortos do mundo que afogava os perfumes; pois,

realmente acumulara-se nesse lugar deslocado eesquecido toda a carne dos cemitérios para os túrgidos



vermes marinhos roerem e se fartarem.

Sobre tais horrores pairava agora a maligna lua

muito baixa no céu, mas os túrgidos vermes marinhos

não precisavam da lua para se alimentar. E enquanto eu

olhava as ondulações que diziam da convulsão dos

vermes sob sua superfície, senti um novo arrepio vindo

de longe, do lugar para onde o condor voara, como se

minha carne tivesse captado um horror antes de meus

olhos o verem.

Não se arrepiara sem motivo minha pele, pois ao

erguer os olhos, vi que as águas haviam recuado para

muito longe, deixando a descoberto boa parte do vasto

recife cuja borda já havia enxergado. E, quando percebi

que o recife era apenas a negra coroa de basalto de um

fabuloso ídolo cuja monstruosa testa agora se expunha

sob o tênue clarão do luar, e cujas ignóbeis patas deviam

escavar o lodo infernal muitas milhas abaixo, gritei e

gritei, temendo que a face oculta se erguesse acima das

águas e temendo que os olhos ocultos me fitassem depois

da ocultação daquela vigilante e traiçoeira lua amarela.

E para escapar dessa coisa implacável, mergulhei

contente e sem hesitação nas águas rasas malcheirosas

onde, entre paredes arruinadas e ruas submersas, gordos

vermes marinhos se regalam com os mortos do mundo."


Leia o texto acima e respoda as perguntas:

1) O que achou da história? Justifique sua resposta com argumentos sustentáveis.

2) Quem são as personagens da história? Como são caracterizadas ?

3) Há na trama algum problema para ser resolvido? Caso haja, como ele foi solucionado?

4) Qual o ambiente da história? Descreva-o.

5) Como você resumiria o enredo do texto que você acabou de ler?

6) Quais autores que você já leu se assemelham ao autor desse texto que você acabou de ler?

7) Crie um começo ou um final diferente para o texto.

Respostas

respondido por: taniarosil
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Resposta:

flores narcóticas e úmidos mares de folhagem

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