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Desde muito tempo, os homens buscam formas para estabelecer a passagem do tempo. Já no Paleolítico, os grupos humanos realizavam suas medições de tempo olhando atentamente as variações regulares ocorridas com o Sol, a Lua e as estrelas. Em um primeiro momento, o ciclo do Sol – marcado pelas variações entre a claridade e a escuridão – foi empregado na contagem dos dias e das noites. Tempos depois, as variações da Lua – com suas respectivas fases – determinaram a concepção de períodos maiores.
Com a observação dos movimentos lunares, foi possível estipular a criação dos meses e, com base na variação das estações, tínhamos a consolidação dos anos. Nesse primeiro tipo de calendário, vemos que a contagem do ano se tornava um grande problema, tendo em vista que o ciclo da Lua durava apenas 28 dias. De tal modo, diversos povos realizavam o acréscimo intencional de alguns dias para que as estações estivessem próximas das medidas de tempo empregadas
Ao longo da Antiguidade, o interesse em se aprimorar os primeiros calendários teve ligação próxima ao desenvolvimento das atividades agrícolas. Afinal de contas, era necessária a constituição de uma medição de tempo precisa e adequada para o planejamento das várias atividades que envolviam o plantio, a colheita e o armazenamento dos grãos. Ao mesmo tempo, os calendários eram úteis na programação da caça, dos ciclos de migração e na promoção de festividades religiosas.
Os egípcios organizavam seu calendário a partir de um ano dividido em três diferentes estações, que eram formuladas a partir da variação das águas do Nilo. Eles trabalhavam basicamente com as estações das inundações, da semeadura e da colheita. Como eles precisavam antecipar a ocorrência de cada uma dessas épocas, a constante observação das estrelas também servia como referencial. Já no século V a.C., os egípcios adotavam um calendário com 365 dias e subdividido em 12 meses com 30 dias.
Há mais de 5000 anos, os sumérios formularam um calendário de 360 dias e 12 meses inspirado no sistema hexadecimal que ordenava seu sistema numérico. Tendo a variação da lua como referência, os astrônomos perceberam que o seu calendário tinha uma defasagem de 11 dias em relação ao ano solar. Com isso, o seu calendário era acrescido de um mês com trinta e três dias a cada três anos. Dessa forma, as estações alinhavam-se aos ciclos da Lua
Na Grécia Antiga, a questão da autonomia das cidades-Estado acabou gerando uma grande confusão entre os calendários utilizados por aquele povo. Cada cidade tinha um critério próprio para adicionar um décimo terceiro mês regulador do ciclo anual. Por volta de 500 a.C., foi que os astrônomos gregos começaram a se reunir com a intenção de utilizarem um mesmo padrão de tempo para a adoção do décimo terceiro mês. No século IV, o Ciclo Calíptico ofereceu um dos paradigmas de tempo mais precisos daquela época.
Os romanos foram os primeiros a estudarem medições de tempo que se aplicassem a todo seu extenso território. No século I a.C., o imperador Júlio César requisitou os serviços do astrônomo Sosígenes para que toda a civilização romana utilizasse um mesmo calendário solar. Para que essa regulação fosse feita, o ano de 46 a.C., contou com 445 dias e, por tal motivo, ficou sendo historicamente conhecido como o “ano da confusão”.
Apesar do alcance desse padrão, o calendário de Júlio César – convencionado como o calendário Juliano – apresentava uma defasagem de 10 dias em relação ao ano solar, no ano de 1582. Por tal motivo, o papa Gregório XIII organizou uma comissão de astrônomos e matemáticos que resolvessem esse problema de maneira definitiva. Ainda hoje, esse é o calendário de proporção mais exata, gerando uma defasagem de um dia a cada 3532 anos.
Mesmo sendo tão funcional, devemos nos lembrar de que a adoção universal do calendário gregoriano nunca chegou a se concretizar. Países de religião ortodoxa, islâmica e oriental ainda mantém antigos calendários que organizam as suas manifestações religiosas ao longo do tempo. De fato, vemos que os elementos de ordem cultural ainda resistem mediante os argumentos econômicos e políticos que demandam de calendários precisos e universais.
Por Rainer Sousa
Graduado em História