O HACKER E A LITERATURA
Para conceder liberdade provisória a três jovens detidos sob a acusação de praticar crimes pela Internet, um juiz federal do Rio Grande do Norte determinou uma condição inédita: que os rapazes leiam e resumam, a cada três meses, dois clássicos da literatura. As primeiras obras escolhidas foram “A hora e vez de Augusto Matraga”, conto de Guimarães Rosa, e Vidas secas, romance de Graciliano Ramos.
(Folha de S. Paulo, Cotidiano, 23/04/2008)
Quando o juiz pronunciou a sentença, a primeira reação dele foi de revolta. Preferível a cadeia, disse para os pais e para o advogado. De nada adiantaram os argumentos deles, segundo os quais a decisão do magistrado tinha sido a melhor possível e, mais, um grande avanço na tradição judiciária.
Foi uma revelação, uma experiência pela qual nunca tinha passado antes. De repente, estava descobrindo um novo mundo, um mundo que sempre lhe fora desconhecido. Vidas Secas simplesmente o fez chorar. Leu outros livros de Graciliano e Guimarães Rosa. Leu poemas de Bandeira e João Cabral. E de repente estava decidido: queria dedicar sua vida à literatura. Foi aprovado em Letras, fez o curso, tornou-se professor – leciona na universidade.
Ah, sim, ele tem um sonho: gostaria de ser um ficcionista. Tem na cabeça o projeto de um romance. É a história de um hacker que, entrando num site, descobre uma história tão emocionante que muda sua vida. Uma história como Graciliano Ramos escreveria, se, claro, ele fosse um ex-hacker.
(Adaptado de Moacyr Scliar, Folha de S. Paulo, 28/04/2008)
1. (FUVEST) – Esses dois textos, uma vez inter-relacionados, estabelecem um dialogo entre
a) dois discursos ficcionais que tratam do mesmo fato.
b) dois fragmentos dissertativos que desenvolvem a mesma tese.
c) dois discursos ficcionais que tratam de fatos semelhantes.
d) um discurso informativo e um ficcional, que desenvolve o primeiro.
e) um discurso ficcional e um dissertativo, que desenvolve o primeiro.
2. (FUVEST) – No texto de Moacyr Scliar, as reações e iniciativas do hacker são expressas
a) numa contínua progressão temporal.
b) num tempo delimitado no passado.
c) em diferentes tempos do passado.
d) numa sucessão contínua do presente.
e) fragmentariamente, sem continuidade temporal.
3. (FUVEST) – Está inteiramente correta a redação da seguinte frase:
a) E mais preferível a cadeia do que enfrentar a literatura, pensou o hacker.
b) Preferia muito mais outra pena qualquer, do que ficar lendo e resumindo.
c) Prefiro a cadeia ao em vez de ler e resumir essa tal de literatura.
d) O hacker teria preferido ir preso do que ler e resumir obras clássicas.
e) Ele achava preferível ficar preso a ter que ler e resumir aqueles livros.
4. (FUVEST) – Está adequada a correlação entre os tempos verbais da frase:
a) Será que o juiz, de fato, averiguara se os três jovens lessem e resumissem clássicos da literatura?
b) Espantou a todos a notícia de que o juiz determinara que os três jovens devam ter lido e resumido clássicos da literatura.
c) Ninguém imaginou que o juiz pudesse determinar que os três jovens haveriam de ler e resumir clássicos da literatura.
d) O juiz houve por bem determinar aos três jovens que se ocupariam da leitura e do resumo de clássicos da literatura.
e) O juiz preferiu que os jovens leiam e resumam clássicos da literatura, em vez de terem cumprido outro tipo de pena.
5. (FUVEST) – Em seu texto, Moacyr Scliar revela interesse em demonstrar que a
a) compreensão dos clássicos da literatura subordina-se à vocação para o curso de Letras.
b) dificuldade de compreensão dos clássicos da literatura e transposta quando se e obrigado a lê-los.
c) resistência à literatura deve-se ao fato de que a linguagem da informática é mais sedutora.
d) resistência à literatura pode ser atribuída à falta de uma aproximação real entre as obras e o leitor.
e) dificuldade de se encontrar prazer na literatura deve-se ao rigor formal de algumas obras clássicas.
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