História da janela empenada
Ela gostava de ser importante, ela adorava coisa de luxo, ela queria se exibir; ela era uma árvore. Bonita mesmo. Dava uma flor vermelha, todo o mundo dizia: "que beleza!", e ela estendia os galhos pra se exibir ainda mais. Mas botaram ela abaixo. Foi pra uma serraria suja, poeirenta. Virou tábua, ficou jogada num canto, ninguém mais prestava atenção nela, caiu na fossa. Empilharam um monte de tábuas em cima dela, que fossa! Uma bela manhã resolveram: vamos fazer porta com essas tábuas. Porta grãfina. De apartamento de luxo. No Rio de Janeiro. Com vista pro mar. Quando ela ouviu falar que ia morar em apartamento grãfino saiu da fossa. Gostou de ser porta. Achou que porta tinha mais “status” do que janela, prateleira, taco pro chão — esse pessoalzinho. Esperou. Esperou. Mas era a última da pilha. Esperou tanto que deu bicho nela: cupim. Onde o cupim mordia ela ia virando pó. Virou tanto pó que não serviu mais pra porta. Caiu na fossa. Uma bela tarde cortaram e colaram ela toda, ela virou janela. Resolveram que ela ia ser janela na casa de uma rua bem movimentada. Um bocado de gente ia passar na rua, ia olhar pra ela. E quando ela soube que ia ser muito olhada saiu da fossa. Mas chegou um helicóptero na serraria com um recado da madrinha: precisava de quatro janelas pra casa que estava fazendo; tinha pressa. E lá se foi ela com mais três janelas que também já estavam prontas. Achou genial andar de helicóptero. Mas quando viu a casa da madrinha caiu na fossa: era um lugar sossegado demais. Amarrou a cara. Uma tromba desse tamanho! E resolveu que queria ser janela dando pra frente: pelo menos, quem chegava na casa olhava logo pra ela; ou então dando pro mar: era bonito de olhar; ou então dando pra mata: quem sabe ela descobria no meio de tanta árvore alguma amiga de antigamente? Quando o carpinteiro viu aquela janela tão trombuda, nem pensou duas vezes: botou ela pra trás — não dando pra nada. Aí ela emburrou pra valer. Emburrou com tanta força que empenou. E nunca mais abriu.
BOJUNGA, Lygia. A casa da madrinha. p. 75.
Selecione a alternativa que indica a passagem do tempo no trecho do romance selecionado.
“Ela gostava de ser importante”.
“Mas era a última da pilha”.
“Uma bela tarde”.
“E lá se foi ela”.
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Resposta:
uma bela tarde
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