Sou um homem doente... Um homem mau. Um homem desagradável. Creio que sofro do fígado. Aliás, não entendo níquel da minha doença e não sei, ao certo, do que estou sofrendo. Não me trato e nunca me tratei, embora respeite a medicina e os médicos. Ademais, sou supersticioso ao extremo; bem, ao menos o bastante para respeitar a medicina. (Sou suficientemente instruído para não ter nenhuma superstição, mas sou supersticioso.) Não, se não quero me tratar, é apenas de raiva. Certamente não compreendeis isto. Ora, eu compreendo. Naturalmente não vos saberei explicar a quem exatamente farei mal, no presente caso, com a minha raiva; sei muito bem que não estarei a “pregar peças” nos médicos pelo fato de não me tratar com eles; sou o primeiro a reconhecer que, com tudo isto, só me prejudicarei a mim mesmo e a mais ninguém. Mas, apesar de tudo, não me trato por uma questão de raiva. Se me dói o fígado, que doa ainda mais. Já faz muito tempo que vivo assim: uns vinte anos. Tenho quarenta, agora. Já estive empregado, atualmente não. Fui um funcionário maldoso, grosseiro, e encontrava prazer nisso. Não aceitava gratificações; no entanto, devia premiar-me ao menos desse modo. [...] DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Memórias do Subsolo. São Paulo: Editora 34, 2009. p.15. O trecho acima foi retirado do livro literário Memórias do Subsolo, de Fiódor Dostoiévski. Com base nele é CORRETO afirmar que o narrador do livro
(A) afirma ser supersticioso devido ao fato de ter pouco conhecimento, como se vê em: “Sou suficientemente instruído para não ter nenhuma superstição, mas sou supersticioso”.
(B) coloca-se como um homem maldoso e grosseiro, mas que não tinha consciência disso, como se vê em: "Fui um funcionário maldoso, grosseiro, e encontrava prazer nisso”.
(C) demonstra ter grande preocupação com o estado de sua saúde, o que pode ser visto no trecho: “Sou um homem doente… Um homem mau. Um homem desagradável”.
(D) possui amplo conhecimento sobre a situação em que se encontra, o que pode ser visto no trecho: “sou o primeiro a reconhecer que [...] só prejudicarei a mim mesmo e a mais ninguém”.
Respostas
A alternativa D é a correta. O personagem de Dostoiévski fala de si mesmo com ironia amarga. Demonstra estar consciente de seus problemas, porém afirma não se importar com eles. Como é comum nos livros do autor russo, o texto mergulha na psicologia do protagonista.
A literatura psicológica de Dostoiévski
O russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) tem várias obras em que explora a psicologia dos personagens. Entre seus principais trabalhos estão Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov.
Analisando as afirmativas:
- A incorreta. O narrador diz ser supersticioso mesmo tendo conhecimento. A declaração também é irônica, não literal.
- B incorreta. O personagem está consciente de seus defeitos.
- C incorreta. Ele menciona ser um homem doente, mas diz não saber coisa alguma sobre sua doença e, principalmente, não se importar.
- D correta. O conhecimento do personagem sobre sua própria condição psicológica faz parte da característica principal da literatura do autor russo.
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Sobre o livro literário "Memórias do Subsolo", de Fiódor Dostoiévski, está correta a alternativa D) possui amplo conhecimento sobre a situação em que se encontra, o que pode ser visto no trecho: “sou o primeiro a reconhecer que [...] só prejudicarei a mim mesmo e a mais ninguém”.
Análise das alternativas sobre o livro "Memórias do Subsolo"
- A) A primeira está ERRADA, porque ele afirma que é supersticioso justamente por ter muito conhecimento.
- B) A segunda está ERRADA, pois ele indica que tem consciência de que é um homem mau.
- C) A terceira está ERRADA, uma vez que o homem não demonstra muita preocupação com o seu estado de saúde.
- D) A quarta está CORRETA, dado que o autor afirma que tem conhecimento da situação em que se encontra, e indica que só causa mal a ele próprio.
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