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Resposta: A Ucrânia não quer se conformar com o papel de estado-tampão. Só que há coisas que não se obtém só pela revolta…
Um estado-tampão é um país forçado a manter neutralidade porque está ao lado de vizinhos mais poderosos. A ideia é que o estado tampão evita que a grande potência tenha fronteiras diretas com seu rival. Exemplos históricos de estados tampão podem ser encontrados por toda a Europa (e aqui eu vou atrair a ira de muita gente).
Os países do BENELUX são estados tampão. Eles só surgiram e se mantiveram independentes historicamente porque havia um interesse de isolar Alemanha, Inglaterra e França. A Bélgica ainda tem o plus de ser estado-tampão entre os católicos franceses e os calvinistas holandeses.
A Dinamarca, a partir da ascensão da Prússia como potência, se tornou um estado-tampão entre esta e a Suécia.
A Finlândia foi, desde sua independência até o colapso da URSS, um estado-tampão entre a Rússia e a Escandinávia.
Fora da Europa, o Uruguai se tornou independente no papel de estado-tampão entre o Brasil e a Argentina.
O estado-tampão é geralmente menor e menos populoso que os vizinhos, razão pela qual não poderia resistir em uma guerra. A neutralidade a que é forçado acaba sendo um preço pequeno a pagar pela relativa paz e pela "proteção" da potência regional. Por outro lado, a política do estado-tampão fica limitada pela política externa do país hegemônico. Um exemplo disso foi a manutenção do presidente Urho Kekonen, da Finlândia, por 26 anos no poder (entre 1956 e 1982). Como os soviéticos confiavam em Kekonen, acabava perigoso votar contra ele, correndo o risco de provocar uma guerra com os russos.
O processo de transformação da Finlândia em estado-tampão recebeu o nome de "finlandização", um termo que é usado em geopolítica para dar nome justamente a esse processo.
Outro exemplo de estado-tampão moderno, que vive uma "finlandização", é a Belarus, com seu folclórico presidente Alexander Lukashenko, no cargo desde 1994.
O que a Rússia queria para a Ucrânia era transformá-la em estado-tampão — e essa situação havia se iniciado sob a presidência de Viktor Yanukovych. Só que a Ucrânia se sente grande demais para viver sob tutela (a população ucraniana é quase um terço da russa) e buscou entrar para a OTAN a fim de obter proteção contra a Rússia.
Na prática isso queria dizer, aos olhos russos, que em vez de aceitar ser uma "Finlândia" a Ucrânia preferia ser ponta de lança de uma potência inimiga da Rússia.
Historicamente, a ocupação de estados-tampão por inimigos da potência que os protegia era um ato de guerra. Na Primeira Guerra Mundial, por exemplo, França declarou guerra à Alemanha tão logo esta invadiu a Bélgica. Na Segunda Guerra Mundial, o Pacto Nazi-Soviético foi justamente um acordo para selar o destino da Polônia, que havia sido constituída como um estado-tampão entre a URSS e a Alemanha.
Então, em termos de política internacional, a aspiração americana de fazer aliança com a Ucrânia é um ato de hostilidade contra a Rússia. Não importam aqui as aspirações ucranianas, mas o jogo de poder das potências.
Se a Rússia cede, perderá um o mais significativo de seus tampões e passará a ter tropas inimigas (e possivelmente mísseis) a menos de 500 km de moscou e, em muitos casos, a poucas centenas de quilômetros de cidades populosas, como Saratov, Rostov-na-Donu, Volgogrado, Voronej, Krasnodar e Astracã. Ceder significa, para a Rússia, conviver com uma ameça contínua à sua própria existência.
Mas a esta altura, depois de terem provocado este furdunço, se os EUA saírem, isto será sentido mundialmente como um recuo. A Rússia se verá fortalecida moralmente e vários países do mundo começarão a olhar para Moscou novamente.
Não se enganem. Não há bonzinhos nesta história. Ninguém liga a mínima para as aspirações dos ucranianos. Eles tiveram sua chance nos anos 1990, mas estavam morrendo de fome e tiveram que trocar suas armas nucleares por tratados comerciais. Agora eles são peões no jogo das potências.
Explicação: espero te ajudado